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Veja o que você aprendeu

Depois de ler a nossa grande reportagem transmídia, faça o teste e descubra se aprendeu tudinho.

A indústria do K-pop vem ganhando adeptos ao redor do mundo todos os dias. Os grupos cantam, dançam, atuam, fazem rap, lotam shows e levam os fãs à loucura. Você ainda não os conhece? Se liga nos motivos para dar uma chance ao estilo.

Crônica: Jornalista em formação

Clarêncio é um garoto magricela, do cabelo preto, olhos verdes e com o rosto cheio de sarda. Usa camisa com estampas feitas por ele. Não tira o all star preto dos pés e usa uma meia de cada cor. Ama história, principalmente a história da Guerra das Coreia. 


Durante os quatro anos de faculdade, se dedicou o máximo que pôde e nunca faltou um dia sequer. Reformulando: no primeiro ano de faculdade, nunca faltou um dia sequer. Nos últimos três anos, ia para o bar pelo menos uma vez por semana. Não ia só, seus amigos o acompanhav. Eram eles: Catarina, Sebastião e Francisca. 


O garoto já tinha na ponta da língua a resposta para a pergunta sobre o que ele queria ser quando crescer. Sempre dizia: 


— Gosto muito de ouvir histórias das pessoas que conheço e poder contá-las depois aos meus amigos. Quando eu crescer quero ser jornalista, conhecer o mundo. Vou começar pela Coreia do Sul.
 

Assim como seus amigos, Clarêncio ganhou bolsa integral para estudar na melhor universidade de comunicação de sua cidade. Conheceu pessoas que fizeram a diferença, mas que ao longo do curso desistiram. Aprendeu com os melhores mestres que poderia ter. 


Foram quatro anos de curso e nesse período poupou o máximo que conseguiu para que assim que terminasse o curso, pudesse fazer um intercâmbio na Coreia do Sul e colocar em prática tudo o que aprendeu no ensino superior. Clarêncio queria montar um blog, com o objetivo de contar toda a experiência de suas viagens e aventuras.


Em abril de 2018, ao entrar no site da Folha de S. Paulo, Clarêncio viu uma notícia que logo o entusiasmou: “Coreia do Norte e do Sul prometem acordo de fim de armas nucleares. Após reunião, Kim Jong-un e Moon Jae-in dizem que tratado será assinado até o final do ano”. O fim da guerra estava próximo. 


Ao terminar de ler a matéria, Clarêncio lembrou de tudo o que havia estudado sobre o tema. O garoto havia dedicado anos de estudo para compreender o conflito entre os países que antes eram um só. 


Eufórico com a notícia, Clarêncio correu para contar aos amigos sobre o tratado de paz.

— O Japão e a Coreia estiveram interligados e essa união ficou conhecida pelo Tratado de Anexação Japão-Coreia. Ao longo desses 35 anos, a Coreia foi submetida às ordens de japoneses e, após a Segunda Guerra Mundial, sem o consentimento coreano, o Japão acordou que uma parte da Coreia ficaria sob o domínio da União Soviética e a outra parte seria de domínio dos Estados Unidos. Os países demarcaram a Coreia com a zona de controle ao longo do paralelo 38. É o marco que divide a Coreia do Norte e a Coreia do Sul.


Era nítido que Clarêncio entendia sobre o assunto. Quanto mais ele falava, mais seus olhos brilhavam e mais empolgado ele ficava com a possível união entre as Coreias. 


Catarina, que era curiosa e gostava de saber de tudo, logo aproveitou o conhecimento do jovem e perguntou:

— Mas, quanto tempo durou esse Tratado de Anexação? E por que chegou ao fim?   


Sem que a amiga terminasse a frase, Clarêncio disparou a falar:

— O tratado chegou ao fim em 1948 e 1949, quando se constituiu o governo entre a Coreia do Norte, comandada por Kim Il-Sung com seu ideal socialista, e a Coreia do Sul, governada por Syngman Rhee, de regime capitalista. Frente à essas escolhas, tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética se comprometeram em abandonar militarmente a região. Mas, em 1950, devido à disputa geopolítica, a Coreia do Norte com o apoio da União Soviética e da China ultrapassou o paralelo de 38 e iniciou uma guerra contra a Coreia do Sul, que a princípio lutava com as próprias tropas. Mas, não demorou muito para que os Estados Unidos e outros países capitalistas apoiassem os sul-coreanos. 


Logo que a conversa começou, Sebastião estava sem muita paciência para escutar. História não era a sua matéria preferida, porém quando viu o amigo todo contente, compartilhando o conhecimento que tinha sobre a guerra, buscou compreender um pouco mais e em seguida disparou:

— Existem números exatos de quantas pessoas morreram? 


Houve uma pausa. Estava nítido que Clarêncio puxava pela memória os números exatos da guerra. Era tanta informação dentro da cachola. 

— A ONU (Organização das Nações Unidas) registrou 118.515 mortos entre sul-coreanos, americanos, chineses, norte-coreanos e outras nacionalidades. Por causa do desespero, coreanos resolveram abandonar a nação em busca de sobrevivência em outros países — contou Clarêncio e concluiu:

— Em 1952, o então presidente dos Estados Unidos Dwight Eisenhower ameaçou a Coreia do Norte e a China com armas nucleares, caso a guerra continuasse, e em julho do ano seguinte a ONU ofereceu uma proposta de cessar-fogo que dura há 65 anos. Por isso, é tão importante que o Kim Jong-un e o Moon Jae-in assinem o acordo de paz, porque, mesmo que não existam mais guerras entre as Coreias, até então ninguém assinou oficialmente tratado.

— Caramba, Clarêncio! Você realmente estudou sobre a guerra! — disse Francisca impressionada com o conhecimento do amigo. 


- Aaah! Desde o colegial eu busco entender a história da Coreia, porque é engraçado, antes era um povo só, agora estão divididas. É por isso que quero ir para lá, quero entender um pouco mais. 


Passaram dois anos, mas tudo parecia igual naquele sábado à noite, quando os quatro amigos se reuniram para comer uma pizza e relembrar os tempos da universidade. Aparentemente, nada havia mudado, Clarêncio continuava o garoto magricelo com sardas. Seus amigos estavam bem. Francisca e Sebastião trabalhavam juntos na Folha. Catarina era repórter da Superinteressante. 


Clarêncio contou, aos risos, como foi o seu primeiro ano na Coreia. 

— Eu não conhecia ninguém. Morei um tempo na casa de uma família, mas não entendia nada do que eles falavam. Na ficha dizia que os filhos falavam inglês, mas me enganaram. Fiquei um mês sem conversar com ninguém. Foi um desespero, mas logo me encontrei. A primeira palavra que aprendi foi “kansanmida”, que significa "obrigado", em coreano.


Todos riram da história de Clarêncio. E, naquele momento, depois de dois anos, nada havia mudado, os quatro continuavam com o brilho nos olhos. Por fim, tudo valeu a pena.

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