Música pop coreana faz sucesso no Brasil
Fenômeno invadiu o país e vem ganhando novos adeptos todos os dias
O K-pop, como é conhecida a música pop produzida na Coreia do Sul, faz sucesso no mundo todo. Mas, se engana quem pensa que a fama desse estilo musical está só relacionada aos coreanos que moram no país. Segundo um estudo feito pela pesquisadora carioca Rachel Berto, não é apenas quem tem vínculo de nascença com países asiáticos que gostam do gênero musical.
Para Raquel, os fãs brasileiros são ocidentais de origens e etnias diversas que muitas vezes tem o primeiro contato com a Coreia do Sul e a cultura sul-coreana, por meio do K-pop. Foi o que aconteceu com a estudante de Farmácia Larinessa Ferrarezi. A jovem conta que, de imediato, os aspectos que chamaram atenção dela em relação a esse tema foram o visual e os estilos dos MVs, abreviação de music videos, como são chamados os videoclipes na Coreia. Ela tem 21 anos e conheceu o K-pop em 2008, assistindo ao programa Top Mundi, da MTV. A coreografia a impactou, fazendo-a pesquisar mais a fundo sobre o assunto. “Me ferrei, porque é um mundo sem volta", diz ela rindo.
A pesquisadora ressalta que apesar do K-pop ainda se manter como um exemplo de cultura de nicho, a internet facilita a chegada desse conteúdo ao Brasil.
"Características como fofura e os diferentes formatos de grupos, a exemplo dos boygroup e das girlgroup, agradam os brasileiros, por isso eles vão atrás de informações sobre o assunto."
Na pesquisa feita por Rachel, em 2014, intitulada “Quem são os fãs de K-pop no Brasil?”, ela constatou que 70% dos entrevistados que gostam e acompanham o gênero são mulheres com a média de idade entre 20 e 30 anos. Rachel explica que esse fato pode estar relacionado com o preconceito e os estereótipos ligados colocam o homem que gosta de K-pop como “menos masculino”.
Essa ideia acaba afastando o público masculino do gênero K-pop. “Principalmente no Brasil, grupos formados por homens têm mais visibilidade. Obviamente, não há absolutamente nada de errado em um homem ser fã de um grupo masculino, assim como há diversas mulheres que são fãs de grupos femininos, porém, o domínio de boygroups pode, além de alimentar o preconceito, acaba por não atender aqueles que procuram a figura feminina aliada a música”, esclarece.
Rachel completa que há também aqueles que gostam do K-pop, mas preferem não se envolver ou se pronunciar tanto sobre ele, devido à possíveis reações negativas acarretadas pela discriminação em relação ao gênero. Além disso, a pesquisadora cita dois motivos que explicam a grande quantidade de fãs jovens: o maior contato com a internet e o fato de serem mais abertos ao que é diferente.
Matheus Lima conheceu o gênero no ano passado, quando viu um MV no Twitter e ficou impressionado com o visual. Para ele, a relação dos grupos com os fãs é especial e um dos motivos que levam algumas pessoas a preferirem o pop coreano. "É algo único. Eles fazem de você parte de uma família, conversam com os fãs como se fôssemos amigos há anos. Esse é o diferencial, fora que os grupos se esforçam muito para conquistar um lugar na industria da música”, opina.
O garoto de 19 anos conta que já sofreu muito preconceito por gostar de k-pop. "No Brasil, rotulam muito e o nível de machismo é grande. Só por eu ouvir um boygroup já fui chamado de vários apelidos maldosos. As pessoas agridem verbalmente os cantores e atores que você gosta para te colocarem para baixo” relata. Ele explica que o número de meninos e meninas que gostam do gênero não é proporcional, mas que não se sente solitário. "Minhas amizades sempre foram mais com meninas, então a falta de público masculino não faz com que eu me sinta só. As minhas amigas não permitem que isso aconteça.”, completa.
Matheus diz que para mudar essa realidade é preciso começar desmistificando que o K-pop e principalmente os boygroups são somente para garotas. "Não faz ninguém menos hétero e não tem problema gostar de coisas diferentes."
Segundo a Billboard, o Brasil está em quinto lugar na lista de países que mais acompanha, por meio do YouTube, o grupo BTS, também conhecido como Bangtan Sonyeondan ou Beyond the Scene. Além de ser um país muito presente no Youtube e também no Itunes e Spotify, o Brasil conta com alguns dos fãs mais ativos nas redes sociais.
Durante a turnê "Wings", em 2017, quando o BTS veio pela terceira vez ao Brasil, os 15 mil ingressos disponíveis para os shows em São Paulo esgotaram em pouco tempo. Havia mais de 50 mil pessoas na fila on-line e muitos fãs ficaram frustrados pelo concerto não ser em um lugar maior.
O sucesso do gênero K-pop é tão grande que mesmo grupos rookies (novatos), como Blanc7, Kard e Dreamcatcher, esgotam ingressos com facilidade em diversas partes do país. Em 2017, inclusive, o grupo Kard gravou o teaser de um de seus MVs em solo brasileiro.
Scaleth Cristine, 22 anos, auxiliar de financeiro e estudante de Turismo, diz que a Onda Hallyu tem crescido muito e com a maior divulgação na mídia brasileira, que vem acontecendo aos poucos, é possível que a cultura coreana, especialmente o K-pop, se espalhe ainda mais pelo Brasil. “Antigamente, você não ouvia falar muito sobre isso. Eu era a única k-popper do meu bairro e agora eu vejo várias meninas de lá que também gostam”, conta.
O sucesso da cultura coreana no Brasil não fica a cargo apenas do K-pop. Os K-dramas - séries e novelas coreanas - também são um fenômeno. A plataforma mundial DramaFever reunia, até 16 de outubro deste ano, doramas coreanos, japoneses, chineses, tailandeses, entre outros, e tinha cerca de 21 milhões de acessos mundiais mensais, sendo 9% desses acessos apenas de brasileiros, sem contar as demais formas que os fãs encontram para assistir a K-dramas no país, como a Netflix, fansubs e outros.