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Imigração coreana completa 55 anos no Brasil
Coreanos encontram conforto em terras brasileiras após conflitos em seu país
Natielly Santos
Vitória Valente
Na década de 1960, os coreanos começaram a chegar legalmente aos portos brasileiros com a esperança de novas oportunidades. Trouxeram, consigo, aspectos culturais que influenciam o país até hoje.
Essa é a história da família do Sae Young Kim, que chegou ao Brasil logo no primeiro navio que saiu da Coreia, há cerca de 60 anos. Na época, seus avós embarcaram no Paraná. Com um pedaço de terra da fazenda, reconstruíram suas vidas no país estrangeiro por meio do plantio de pimenta.
“Quando meu pai e o meu tio cresceram, eles vieram morar em São Paulo. Mas, meu pai não gostou muito daqui e voltou para a Coreia. Lá, ele conheceu a minha mãe. Nasci na Coreia e quando tinha um ano de idade, meus pais vieram para cá. Moramos no Brasil, desde então”, relembra Sae.
Cerca de 96,84% dos coreanos estão concentrados na cidade de São Paulo; a maioria vive e mora no Bom Retiro. O bairro inclusive, é conhecido como a pequena Coreia. Mas, não são só os imigrantes coreanos que habitam o lugar, os judaicas também contribuem com a sua cultura.
Assim que chegaram, os imigrantes da Coreia do Sul ingressaram na economia de São Paulo. Muitas confecções surgiram ao longo dos anos e, por causa disso, o Bom Retiro ficou conhecido pela sua variedade de lojas têxteis e pelo valor das peças de roupas, que são mais baratas do que na maioria das outras lojas. Pessoas vinham de outros estados para comprar no bairro.
Na década de 1970, a economia do Brasil estava favorável, porque havia investimento na industrialização brasileira. Com isso, trouxe para os coreanos a estabilidade que o país de origem só passou a oferecer na década seguinte. O Brasil oferecia um retorno satisfatório para os imigrantes e isso fez com que construíssem patrimônios e permanecem em terras brasileiras.
Aos poucos, a nova geração de descendentes coreanos se inseriram na sociedade e passaram a contribuir com novos segmentos na economia do país. Para Alexandre Uehara, professor de relações institucionais da ESPM e pesquisador da USP, “a segunda geração consegue ter uma melhor educação no Brasil, fazer o ensino superior e ingressar em outras áreas da sociedade brasileira, não só na têxtil”.
Para Uehara, mesmo que haja acordo entre as Coreias, o processo para que os que vivem no Brasil queiram voltar é longo. “Os imigrantes coreanos estão bem colocadas no mercado de trabalho, na economia, têm condições e certa estabilidade econômica social. Isso faz com que as pessoas tendam a ficar no país”, explica. Segundo ele, a volta ao país de origem ocorreria caso houvesse algum desconforto econômico ou social que ocasionassem desemprego.
Yun Hwang veio ao Brasil ainda criança e mora em terras brasileiras há cerca de 46 anos. Cresceu e hoje é dona do restaurante Portal da Coreia, que fica localizado no bairro Liberdade, em São Paulo. Yun é conhecida como Regina e vai contar para nós um pouco da sua história. Confira no vídeo a seguir.
Cultura coreana no Bom Retiro
Para fortalecer ainda mais o elo entre as nações Brasil e Coreia, anualmente acontece o Festival da Cultura Coreana em São Paulo, na Praça Coronel Fernando Prestes, bairro Bom Retiro. Ele é promovido pela própria comunidade coreana.
Neste ano, o festival teve a sua 12ª edição. A festividade, inclusive, faz parte do calendário de eventos da cidade de São Paulo. A data escolhida para a realização do evento é sempre 15 de agosto, data na qual os coreanos comemoram o dia da libertação das Coreias sob o domínio colonial japonês. Para eles, é o dia da Restauração da Luz do Dia, em coreano, 광복절.
O bairro Bom Retiro oferece um catálogo diversificado aos imigrantes coreanos e para quem se interessa pela cultura. Não é à toa que é conhecido como a pequena Coreia. Em 2013, foi inaugurado, no local, o Centro Cultural Coreano, que disponibiliza várias atrações para o público, como aulas de dança, culinária, taekwondo e idioma, além de uma vasta biblioteca.
Taekwondo

Nas terras brasileiras, os imigrantes foram bem acolhidos e possuem estabilidade financeira, empregabilidade, além de poderem manter viva a sua cultura.
Foto: Nathalia Nascimento
O nome original era "Taekyon". A arte marcial nasceu em 670 D.C, em Surabul, e era utilizada para aperfeiçoar o desempenho dos soldados nas batalhas.
No período em que as Coreias estiveram sob domínio dos japoneses, o taekyon foi proibido de ser praticado, mas isso não impediu que as pessoas treinassem clandestinamente. O esporte passou a ser chamado de taekwondo em 1955. Em 1971, se tornou a arte marcial nacional coreana. No ano subsequente, foi fundada a sede na cidade Gangnam-Gu, a Kukkiwon, com várias competições da arte marcial. Um ano depois, a Federação Mundial de Taekwondo foi estabelecida na Coreia do Sul. O taekwondo foi incluído oficialmente nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, uma vez que nas olimpíadas anteriores o esporte apareceu apenas como demonstração.
Ele surgiu no Brasil na década de 1970; a primeira academia fundada foi no bairro Liberdade, em São Paulo. Em 1972, na cidade do Rio de Janeiro. O primeiro campeonato aconteceu no ano seguinte, em ambas as cidades.
Na olimpíada de 2016, sediada no Rio de Janeiro, o taekwondista Maicon Siqueira, conquistou para o Brasil a primeira medalha de bronze, na categoria masculina. Mas, essa não foi a primeira conquista brasileira no taekwondo. Na olimpíada de 2008, quem também levou para casa a medalha de bronze foi a taekwondista Nathália Falavigna.
Existem academias que oferecem aulas para a prática da arte marcial. Muitos, por se interessarem pela cultura coreana, optam em exercer o taekwondo. É o caso da Agnes Dutra Sanches, 20 anos, que há três anos participa das aulas de Taekwondo que o Centro Cultural Coreano disponibiliza. Para ela, a prática da arte marcial trouxe mais disposição, resistência corporal, além de melhorar a saúde física. "Essa prática se tornou um estilo de vida, melhorando também meus conceitos de coragem, confiança, perseverança, autocontrole, respeito, humildade e integridade.”, diz.

Foto: Arquivo pessoal
O mestre de Taekwondo Sabonim, Alessandro Freitas, ensina a arte marcial há 20 anos e presa pela filosofia e pelo juramento da luta. Ele diz: “O juramento é resumido em observar as suas regras, respeitar os tutores e superiores, nunca fazer o mal uso do taekwondo, ser campeão da verdade e da justiça e construir um mundo mais pacífico".
O taekwondista Antony Cerqueira, 26 anos, participou nos últimos dois anos do Campeonato Paulista e, no primeiro ano, ganhou na segunda etapa, enquanto no segundo ano conquistou a primeira. "Nos dois campeonatos, competi na categoria 'Poomsae', que são movimentos de ataque e defesa realizados contra um inimigo imaginário, no qual são avaliadas a execução das técnicas, concentração, ritmo e expressão de energia."
Agnes gostaria de seguir a carreira de taekwondista e relata que o maior desafio é conciliar o trabalho e o estudo com o taekwondo. "Eu realmente amo o que faço e quero tornar a carreira meu emprego oficial", conclui.
Os benefícios são muitos para quem pratica o taekwondo, alguns deles são a melhora do condicionamento físico e a perda de peso. Para Antony, ajudou na concentração, disciplina e perseverança, tanto nos treinos quanto nas tarefas do dia a dia. Segundo ele, outro ponto importante na prática do taekwondo, assim como de qualquer atividade física, é poder aliviar o estresse.